Disfunções na ATM é uma realidade incontestável em clínicas odontológicas








Outrora, mesmo subestimando essa queixa de nossos pacientes, volta e meia, nos acercávamos de situações onde, em nossos consultórios, éramos obrigados a ouvir relatos quanto a sinais e sintomas que sequer sabíamos a origem, sequer sabíamos as características, sequer sabíamos se pertencia a nossa profissão, muito menos a quem encaminhar ou mesmo se havia tratamento. Queixas como dores de cabeça (cefaléias do tipo tensional), dores na região da ATM (Articulação Têmporo-Mandibular), na região do ouvido, dores no pescoço, dores nas costas, zumbido, vertigem, barohipoacusia (pressão e diminuição na audição), que forçávamos para que passasse despercebido aos nossos ouvidos, dentre muitos outros sinais que serão citados neste artigo. Ocorre que, atualmente, o número de pacientes cresceu assustadoramente que a comunidade científica passou a dar uma importância vital a casuística transformando-a em especialidade. Hoje, a ATM, elo mais frágil do sistema estomatognático, é objeto de inúmeras pesquisas, o que tem mudado dogmas mantidos no passado. Revistas especializadas nessa área têm alcançado cada vez mais o interesse da classe odontológica. A temática ganhou destaque em congressos de grande vulto não só pela presença expressiva de participantes como também de professores nacionais e internacionais em nosso país, com temas como oclusão, disfunções da ATM, envolvimento multidisciplinar nos tratamentos das DTM (Disfunções da ATM), fisioterapia e medicina no tratamento, dores orofaciais, dentre outros, além de inúmeros cursos de atualização e especialização Brasil afora.

A realidade é uma só. Erram os que pensam que não sendo da especialidade devem desconhecer ou não se atentar ao assunto. Por estar envolvida com todas as especialidades, o CD que a ignora não só submete o paciente a riscos como pode colocar a perder todo um trabalho realizado, como uma reabilitação bucal, ortodontia, periodontia, dentística, implantodontia etc. Muitos pacientes iniciam tratamentos já com disfunção e, quando desprezada no planejamento, podem, ao final do mesmo, encontrar seus próprios pacientes após, por exemplo, um belo alinhamento dental da ortodontia, ou uma bela estética realizada em tratamento complexo, e observá-los com limitações de abertura bucal, desvios na abertura, fortes estalos na ATM, quase sempre em presença de dor.

A Articulação Têmporo-Mandibular, esse elo mais fraco do sistema, é composta de côndilo mandibular, disco articular, fossa mandibular, zona bilaminar, líquido sinovial envolto pela cápsula articular e estruturas ligamentares e músculos, para que o sistema mastigatório realize suas exatas funções. Algumas dessas estruturas, apesar de frágeis, suportam a carga referida de todo o esforço mastigatório do sistema estomatognático, porém quando exposto a um valor excessivo fatalmente sofre injúrias vez por outras irreparáveis. Precisamos, via de regra, conscientizarmo-nos da necessidade em correlacionar as estruturas articulares com os movimentos mandibulares normais, buscando uma conformidade do que se prepara para o plano oclusal com as estruturas anatômicas presentes, pois segundo Peter E.Dawson: "ATM estável, oclusão estável". Ou seja, que mal existe no final de uma reabilitação oral ou um tratamento ortodôntico finalizá-los com o paciente estável (sob ponto de vista das DTM) e com uma bela oclusão?

Em outras épocas, era possível negligenciar nesse sentido, ou seja, épocas aquelas onde o fator estresse, um dos principais fatores etiológicos não estava tão presente. Hoje, a realidade é outra. Observamos crianças, adolescentes alimentando-se de refeições cada vez menos consistentes e mais pastosas, como as macarronadas prontas para consumo, onde o exercício mastigatório resume-se, praticamente, em apenas deglutir. Soma-se a isso o fator estressante de jogos de ação e atividades extra-curriculares preenchendo por completo todos os turnos possíveis e com a cobrança ainda mais dos pais para que seus filhos cumpram a meta de conseguirem, a todo custo, um espaço no mercado futuro de suas competições. Por conta disso, já encontramos facilmente também crianças, adolescentes e adultos jovens que possuem hábitos para-funcionais de fazer apertamento dental, bruxismo, onicofagia e com disfunções musculares, apresentando, inclusive, fortes estalos na ATM acompanhados de dor.

Observa-se uma média na proporção de 80% das mulheres para 20% dos homens portadores de DTM e, se formos analisar o fator emocional que leva a esta condição, acaba sendo muito justificável encontrar esta incidência pelo simples fato do papel feminino ter sofrido uma reviravolta nestes últimos anos. Uma competição acirrada, onde há mulheres desempenhando a função de esposa, mãe, companheira e profissional lutando para se equalizar não somente nas vagas no mercado de trabalho, mas também na equiparação dos proventos em relação aos homens. Soma-se ainda condições sistêmicas e fisiológicas, em que, mensalmente, a mulher vê-se em grandes variações.
Cabe a nós, profissionais na área da Odontologia, restabelecer conceitos esquecidos ou sequer vistos na oclusão, para que a mesma não seja mais um fator colaborador no aparecimento das desordens da ATM, ao finalizar tratamentos complexos.

Implantes bem instalados, cosmética sem nada a desejar, ortodontia com as melhores técnicas de movimentação dental, tratamento protético metal free com as melhores porcelanas, muitas vezes confeccionadas via digitalização. Esses são alguns exemplos, porém é na oclusão que se observa a maior displicência, que pode pôr em risco tudo o que se previamente planejou. Outro exemplo é a finalização de tratamentos sem guias anteriores compatíveis, ausência de variações mínimas entre RC e OH, falta de montagens em articuladores simples como os semi-ajustáveis disponíveis no mercado para planejamentos em reabilitações ou ortodontias, também a tão famosa Oclusão Mutuamente Protegida, Oclusão Balanceada, Curvas de Compensação, etc., relegados a apenas conceitos de livros de folhas amareladas pelo tempo, desconhecimentos de métodos simples e práticos para tratamentos de insucessos corriqueiros.

Especificamente quanto aos tratamentos de disfunções não se aceita mais a construção de placas oclusais acrílicas montadas ao acaso. Quanto à classificação das desordens da ATM, segundo J. Okeson, sabemos que, além das desordens musculares, temos as articulares que merecem tratamentos diferenciados e específicos, que, quando não diagnosticados ou não interceptados, podem levar o paciente a uma condição de situação irreparável (p.ex.: limitação de abertura bucal). A DTM sendo multifatorial merece uma atenção em especial no sentido de estar atento para acionar equipe multidisciplinar dentre eles, fisioterapeutas conhecedores do assunto, fonoaudiólogos, principalmente psicólogos e psicoterapeutas, neurologistas. Não obstante ao precisarmos de intervenção concomitante destes profissionais para buscarmos, juntos, um equilíbrio aos pacientes que já fizeram peregrinações em várias clínicas médicas por anos a fio por exemplo.

Entenda-se para isto a casuística crescente de pacientes encaminhados por otorrinolaringologistas sem ter diagnosticado em sua área algo que justificasse tamanha sintomatologia em regiões próxima a de sua competência, como fortes dores na região do ouvido, diminuição da capacidade auditiva, zumbido, vertigem, produção excessiva de secreção no ouvido acompanhada de prurido. Situações perfeitamente tratadas em nossa área com excelente índice de sucesso, bastando para isto um bom e completo histórico acompanhado de uma anamnese, diagnóstico e tratamento.

A Odontologia passou da condição de profissão secundária em relação à Medicina na resolução de questões quando o assunto é dor. Hoje, ocupa papel de destaque inclusive em congressos internacionais, onde, dentre várias profissões participantes, somos nós que além de organizar e sediar, também competem de igual para igual com trabalhos de pesquisas voltadas para a área da dor.

Não existe mais tempo para espera. Urge a necessidade de dar estética e principalmente função, urge a necessidade de relacionar a oclusão com o cotidiano do ciclo mastigatório reconstruído, urge a necessidade de fazermos a nossa parte, ou seja, que em nossos trabalhos em momento algum sejam a gota d´água para o surgimento de uma disfunção. Aplica-se aquela situação de antes mesmo de fazer o exame clínico para uma futura reabilitação oral, começar perguntando a esse paciente: ...você tem dores de cabeça constantes, cansaço muscular, estalidos com ou sem dor, etc.? Pois aquela máxima de que: prevenir é melhor que remediar, aqui se encaixa em gênero, número e grau, principalmente para nós mesmos.

Victor Ferzeli
Especialista em Prótese Dentária
Especialista em DTM e Dores Orofaciais
Mestre em Prótese Dentária (IOWA –USA)
www.victorferzeli.com.br
dtm.victor@terra.com.br



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